Matos de Silvado: Nativos, Pioneiros e Infestantes
01 Out 2019
Matos de Silvado: Nativos, Pioneiros e Infestantes
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Crónicas de campo #2

As silvas, cientificamente conhecidas pela família de espécies Rubus sp., são comuns de encontrar em variados contextos do território nacional, desde terrenos agrícolas até áreas florestais mais densas. Estas lianas são de extrema importância para os processos evolutivos de um ecossistema, sendo essenciais para a construção e estruturação de solo. Podem crescer na própria rocha ou em terrenos expostos e erodidos que, após um longo período de ocupação, permitirão solos mais profundo e ricos em matéria orgânica, condições necessárias para a ocupação futura de outras espécies de arbustos e árvores, mais complexos e exigentes.

A sua tipologia de crescimento desorganizado com tendência a colonizar áreas rapidamente, de forma homogénea, é reveladora do seu comportamento e função ecológica, enquanto vegetação pioneira e, potencialmente, infestante. Em contexto de conservação florestal é comum encontrar silvado de grande dimensão, superior a dois metros, em áreas climaticamente expostas ao sol e ao vento, por vezes pedregosas e com escassa ocupação arbóreo-arbustiva. São áreas que revelam estados menos complexos da evolução de uma floresta e, por isso, também são mais instáveis e susceptíveis ao fogo. O seu comportamento infestante revela uma resposta eficaz e natural do sistema para ocupar uma área anteriormente erodida e despida de vegetação, quer seja resultado de causas naturais, como uma tempestade ou antrópicas devido ao pastoreio ou agricultura intensiva.

No entanto, esta família de lianas, se bem analisada, pode e deve ser um elemento a considerar no processo de recuperação ecológica, trazendo inúmeros benefícios, tanto numa fase intermédia do restauro da floresta, como a longo-prazo, coexistindo no bosque consolidado e biodiverso.

A gestão do silvado nas parcelas do Parque Natural de Sintra-Cascais tem sido uma tarefa constante e central, que começa a revelar os seus frutos. O seu aparecimento nas parcelas reflecte um historial evolutivo padronizado referindo-se: cumular de desflorestação e pastoreio antigo na serra seguido pela arborização com exóticas invasoras de enraizamento superficial, queda de árvores com os temporais e, por fim, a ocupação do silvado nas clareiras expostas e degradadas.

A manutenção regular das parcelas tem tido como objectivo criar descontinuidades e controlar a densidade do silvado através do seu desenraizamento manual, empilhamento para secagem e decomposição e posterior traçar com recurso a roçadoras mecânicas. Este ciclo de intervenções permite:

— Abrir áreas para futuras plantações;

— Criar oportunidades de dispersão natural e germinação espontânea de espécies autóctones que se encontrem na vizinhança ou que sejam trazidas pela fauna ou pelo vento;

— Reciclar um recurso natural na parcela pela decomposição e incorporação dos nutrientes no solo através de mulching.

O cumular de vários ciclos de trabalhos na mesma área têm revelado um aumento notório da diversidade e quantidade de regeneração nativa espontânea e elevada taxa de sobrevivência e de crescimento das plantações, superior a  80%. Por outro lado, há uma tendência para diminuir o silvado em porte e densidade devido ao aumento do ensombramento pelo coberto arbóreo-arbustivo, restringindo-se de futuro a orlas e pequenas clareiras mais expostas e instáveis. O padrão descrito é desejável e natural que aconteça, criando oportunidades de abrigo e alimento, pelas flores e frutos, à fauna de pequena dimensão como coelhos e ginetas e sendo zonas de enriquecimento de solo e de definição de fronteiras naturais à futura circulação de mamíferos de grande porte como veados ou javalis.

Matos de Silvado: Nativos, Pioneiros e Infestantes

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