A falta de uma cultura de voluntariado é certamente uma das questões que assola o voluntariado, em Portugal, mas também nos países mediterrânicos, sendo visto mais como uma atividade de lazer, de ocupação dos tempos livres, do que como uma atividade eminentemente profissional, que acarreta um compromisso. Embora tal possa explicar a atitude do potencial voluntário, há que considerar que, também, da parte dos promotores de voluntariado, existe uma postura que traz pouco significado à experiência de voluntariado.
Importa também discernir que existem notórias diferenças entre o voluntariado social, ambiental e de conservação da natureza, com o voluntariado social a catalisar mais voluntários, já que o cidadão tende a rever-se nas situações a que esta tipologia de voluntariado atende, enquanto que o voluntariado ambiental e de conservação da natureza, obriga a uma visão mais integrada do cidadão no meio.
O voluntariado na nossa associação é conhecido por ser duro, mas nem por isso deixa de ser, talvez, o mais bem sucedido e inclusivo programa de voluntariado em Portugal, tanto pela quantidade de voluntários envolvidos, fidelização dos mesmos e resultados atingidos em termos de conservação da natureza, como por integrar voluntários de todas as gerações e com necessidades especiais.
Para explicar tal, podemos apontar dois fatores preponderantes, que dizem respeito à forma como o voluntário é integrado nos trabalhos e acima de tudo na equipa.
A tendência é reservar aos voluntários tarefas avulsas, que exijam poucos conhecimentos, aptidões e disponibilidade física, dado que, de facto, um grupo de voluntários pode ser bastante diversificado na sua idade, formação, capacidade e até motivação. Para além disso, tende-se a integrar o voluntário numa estrutura vertical, sendo-lhe reservada uma posição de subalterno, em que os técnicos se resignam ao enquadramento e designação das tarefas a desempenhar e em que os funcionários, que eventualmente se juntam, são limitados a apoiar as tarefas nos bastidores. Neste modelo, gera-se uma lógica viciada em que o voluntariado serve apenas como meio de sensibilização, que se incompatibiliza com a persecução de objetivos concretos.
O voluntariado na associação é inclusivo e horizontal, tanto nas tarefas a desempenhar, como na estrutura, com os voluntários a juntarem-se à equipa nas tarefas necessárias. A experiência do voluntário nesta lógica reserva-lhe o direito de se enquadrar nas tarefas que melhor se ajustam ao seu perfil, mas mantendo a dinâmica dos trabalhos, que são os reais, facilitando a possibilidade de um trabalho com uma dinâmica de equipa, uma compreensão da relevância das diferentes tarefas como soluções para uma determinada problemática e uma perceção palpável e tangível dos resultados de uma jornada num cenário de trabalho em progresso face a um objetivo. Com a integração do voluntário na equipa, assente ela numa estrutura horizontal, orgânica e fluida, faculta-se a plena integração do voluntário, a valorização do seu trabalho e o sentido de validade de um esforço por um objetivo comum.
A última coisa que um voluntário quer é exercer um papel de subalterno, sem integração numa equipa e sem noção do real impacto do seu trabalho e talvez por a associação ter crescido de baixo para cima, do cidadão comum como voluntário, que a lógica de um voluntariado inclusivo, horizontal e orgânico seja parte indissociável do voluntariado na associação, em que a gratificação se torna proporcional ao esforço e dedicação, conferindo ao voluntariado um pleno sentido de missão, que se traduz em resultados concretos.