Este mês voltamos com mais um artigo sobre a bicharada da floresta de que muitos fogem a sete pés. Desta vez falamos das vespas e vespões que, apesar de parecerem todos iguais, são diferentes entre si, quer na aparência, quer ao nível de “mau-feitio” de cada espécie.
Comecemos por categorizar estes seres, as vespas/vespões são insetos que pertencem à ordem Hymenoptera, onde também se incluem as formigas e as abelhas. São normalmente reconhecidas pelos corpos finos, cinturas estreitas e padrões amarelos e pretos. Podemos encontrá-las em quase todo o tipo de habitats, como florestas, jardins, zonas urbanas, praias. Ao contrário das abelhas, as vespas conseguem ferroar mais do que uma vez sem morrer e são tipicamente mais agressivas quando ameaçadas. Têm comportamentos sociais, vivem em colónias, mas dependendo da espécie podem também ser solitárias. Vespas sociais, como as vespas de papel, formam colónias que podem chegar a ter milhares de indivíduos.
Vespas versus abelhas
Apesar de parecerem semelhantes, as vespas e as abelhas têm várias diferenças:
– Formato do corpo: as vespas tendem a ser mais delgadas, com corpos com uma cintura estreita e sem pêlos, e as abelhas tendem a ter corpos mais arredondados e com pêlos que ajudam na recolha de pólen.
– Comportamento: abelhas são geralmente menos agressivas do que as vespas e só ferroam como mecanismo de defesa dado que morrem depois de ferrar. Já as vespas, podem ferroar várias vezes e tendem a defender agressivamente as suas colmeias/ninhos.
– Dieta: abelhas são polinizadores primários, recolhem néctar e pólen de flores. Já as vespas são polinizadores, mas também predadores, que procuram alimentar-se de outros insetos e/ou substâncias açucaradas.
– Papel nas colónias: as colónias de abelhas são focadas maioritariamente na produção de mel, enquanto as colónias de vespas são focadas na construção de colmeias/ninhos e predação.
Vespas versus vespões
Os vespões são na verdade um tipo de vespa, incluídos dentro do género Vespa. Apesar de serem mais semelhantes às vespas do que das abelhas, é possível mesmo assim distingui-los:
– Tamanho: os vespões são normalmente maiores do que a maioria das espécies de vespas
-Agressividade: tendem a ser mais defensivos e por isso mais agressivos quando se sentem ameaçados ou a proteger as suas colmeias/ninhos
– Colmeias/ninhos: são normalmente bastante maiores, envolvidos numa capa semelhante a papel, e podem ser encontrados em árvores ou áreas mais protegidas, enquanto que os das vespas costumam ter uma aparência mais de colmeia aberta e são encontrados no meio da vegetação ou em beirados, por exemplo.
-Dieta: tal como as vespas os vespões alimentam-se de outros insetos e substâncias açucaradas.
Importância das vespas, abelhas e vespões no ecossistema:
Todos sabemos que as abelhas são dos polinizadores mais importantes globalmente, que apoiam a reprodução das flores e da agricultura, que são essenciais para os humanos e animais. Sem elas não seria possível termos os ecossistemas a funcionar, e 90% das cadeias alimentares e alimentos desapareciam.
O que não é tão comumente sabido é que as vespas e os vespões têm também um papel ativo na polinização de plantas, ainda que em menor quantidade. Para além de que são ávidos contribuidores para o controlo de populações de insetos, incluindo as pragas de agricultura e até já existirem estudos que testam o uso dos seus venenos e saliva para tratamentos médicos.
Em Portugal, algumas das espécies de vespas e vespões que são mais comuns são:
– Vespa comum (Vespula vulgaris), é possível encontrá-la um pouco por toda a europa e é uma espécie que constrói normalmente os seus ninhos debaixo do solo ou áreas abrigadas.
-Vespa de papel (Polistes dominula), pode-se encontrar um pouco por Portugal inteiro e é reconhecível pelo tipo de ninhos que faz e pelas patas longas.
– Vespa germânica (Vespula germanica), são relativamente comuns em Portugal e têm um comportamento bastante agressivo comparado com as restantes, especialmente perto de fontes de alimentação.
– Vespão europeu (Vespa crabro), é a maior vespa/vespão nativo que temos em Portugal, distinguível normalmente pela sua cabeça acastanhada e abdómen riscado em amarelo e acastanhado, ao contrário do comum amarelo e preto. São caracteristicamente menos agressivas do que a maioria das vespas mais pequenas e estão ativas durante o dia e a noite, o que é incomum para estas espécies.
Atualmente, um dos maiores contributos, para além da destruição de habitat, para a diminuição das populações de abelhas e vespas nativas, são as espécies invasoras, nomeadamente a Vespa velutina, ou como a conhecemos, vespa asiática. Que na verdade é considerada um vespão pela sua dimensão. A vespa asiática é nativa do sudeste asiático e foi acidentalmente introduzida na Europa, tem patas amarelas e corpo listado amarelo e preto com a cabeça preta.
Diferente das espécies nativas, a vespa asiática é uma espécie especialmente agressiva e predatória e a sua presa principal são as abelhas melíferas (abelhas que produzem mel). Estas vespas, que são muitas vezes confundidas com a nativa vespa crabro, são uma ameaça às populações de abelhas, já que as usam como alimento para as suas larvas, afetando os esforços de polinização destes insetos. Têm uma propagação rápida, já que se adaptam facilmente a muitos tipos de ambientes e, portanto, tornam-se difíceis de controlar.
Em Portugal estão a ser feitos bastantes esforços para a identificação e remoção de ninhos, sensibilização das populações, monitorização e controlo de indivíduos e enxames.
A Plantar uma Árvore, desde o início deste ano, que está a colaborar com a Parques de Sintra e Monte da Lua para a monitorização e controlo das populações de vespa asiática dentro do Parque da Pena. A monitorização e o controlo são feitos através da colocação de armadilhas desenhadas para atrair e capturar estas vespas. Quinzenalmente as armadilhas são monitorizadas, são feitas contagens de vespas capturadas, feita a distinção entre rainhas, obreiras e machos e os indivíduos são posteriormente eliminados. Os atrativos usados para estas armadilhas variam consoante o ciclo de vida das abelhas, sendo mais açucarados na altura das primeiras rainhas (primavera e verão) e mais proteico na altura das segundas rainhas e machos (Outono e Inverno), de forma a alimentarem as colónias.
Desde o começo das monitorizações que foram capturadas e eliminadas mais de 1200 vespas asiáticas.
