Monitorizar charcas: anfíbios
30 Jun 2025
Monitorizar charcas: anfíbios
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A monitorização de anfíbios é uma ferramenta essencial para a conservação da biodiversidade e para o acompanhamento da qualidade ecológica dos ecossistemas dulçaquícolas (ecossistemas cobertos ou parcialmente cobertos por água doce).

Os anfíbios, com a sua presença, abundância e sucesso reprodutivo são reconhecidos como bioindicadores importantes para o estado ecológico de habitats aquáticos e terrestes a que estão associados. Este ano, no âmbito da parceria com a Parques de Sintra – Monte da Lua, estamos a realizar monitorizações em três charcas, com o objetivo de registar a atividade reprodutiva e identificar as espécies de anfíbios que ocorrem nestas zonas.

O trabalho de campo decorre em três charcas, sendo duas artificiais, uma temporária e outra permanente, e uma terceira charca natural mas temporária. As visitas são realizadas mensalmente durante a época reprodutiva, alternando entre períodos da manhã e da tarde, de forma a captar diferentes momentos de atividade das espécies. O método de monitorização consiste na amostragem com camaroeiro em pontos fixos pré-estabelecidos em cada charca, com registo da presença e abundância de indivíduos por espécie e por fase do ciclo de vida (larvar, juvenil, adulto).

Entre as espécies observadas, destacam-se o tritão-marmoreado (Triturus marmoratus), o tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai), a salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), a rã-ibérica (Rana iberica) e o sapo-comum (Bufo spinosus). Todas com ciclos de vida distintos e exigências ecológicas diferentes.

O tritão-marmoreado é uma espécie com comportamento marcadamente aquático durante a fase reprodutiva. Durante a época de reprodução (final do inverno/inicio da primevera) os adultos movem-se das zonas húmidas para os charcos, onde os machos desenvolvem uma crista dorsal para impressionar as fêmeas. As larvas, apresentam brânquias externas visíveis e permanecendo nos charcos até completarem a metamorfose, que dura várias semanas. 

Tritão marmoreado adulto com crista

O tritão-de-ventre-laranja é uma espécie de menor dimensão comparativamente ao tritão marmoreado e têm o ventre laranja, sendo a sua mais distinta característica. Normalmente são uma espécie que se encontra facilmente nas margens e vegetação dos charcos e que estão adaptadas aos charcos temporários já que as larvas desenvolvem-se rapidamente.

Diferente dos tritões, a salamandra de pintas amarelas é uma espécie maioritariamente terrestre, e que se reproduz fora de água. As fêmeas depois de acassalarem transportam as larvas e libertam-nas em corpos de água. As larvas são de maior dimensão do que as dos tritões e podem permanecer bastante tempo na fase aquática antes da metamorfose. O Parque Natural de Sintra-Cascais tem uma população de salamandras de pintas amarelas particularmente elevada.

Larva de salamandra de pintas amarelas

A rã-ibérica é um anuro endémico da Península Ibérica bem distribuido pelo território nacional. A reprodução ocorre no final do inverno e início da primavera em meio aquático. Os ovos são depositados em massas gelatinosas, e os girinos alimentam-se de matéria orgânica e algas.

Girino de rã ibérica

A reprodução do sapo-comum ocorre no início da primavera. Os ovos são depositados em filas compridas gelatinosas na vegetação submersa e nas bermas dos charcos. Os girinos, desenvolvem-se em grandes agregados e têm coloração escura, o que lhes permite absorver calor e acelerar o crescimento. A metamorfose ocorre após várias semanas, e os juvenis emergem da água em grande número, dispersando-se para áreas terrestres. 

Girinos de sapo comum

A monitorização regular dos charcos ajuda-nos a perceber a evolução das populações e espécies da zona, e a ligação à recuperação de áreas ecologicamente degradadas em redor destas charcas. Se os trabalhos forem tendo resultados e a floresta/zonas húmidas conseguirem ir recuperando da degradação ecológica, o número de espécies e populações de anfíbios beneficiará certamente destas áreas.

Monitorizar charcas: anfíbios

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