Crónica de campo #21
Na crónica deste mês falamos sobre a importância de intervir, mas não demasiado, ou seja, fazê-lo de forma menos invasiva para trazer mais ganhos do que perdas para o restauro ecológicos dos ecossistemas.
As intervenções florestais podem ter diferentes tipos de intensidade e ser efetuadas com objetivos distintos e trazer, consequentemente resultados também eles, diferentes. Comparemos estes dois exemplos com o objetivo comum de extrair árvores numa floresta:
– Intervenção 1: abater árvores de grande porte com motosserra e remover com maquinaria pesada de arrasto as árvores inteiras;
– Intervenção 2: abater árvores com motosserra, desramar a copa e fazer o transporte manual da mesma e, com máquinas guinchar apenas os troncos das árvores através de corredores de extração.
Em ambas as intervenções o objetivo era retirar madeira de um terreno florestal, no entanto a forma de o fazer trouxe consequências distintas. Numa área com a intervenção 1, há maior compactação do solo, esmagamento de vegetação arbóreo-arbustiva pelos rodados das máquinas e arrasto indiscriminado das árvores a remover que poderão deixar para trás um rasto de destruição de outras plantas que estejam no caminho.
Numa perspetiva de gestão florestal que promove o restauro ecológico, a conservação dos ecossistemas a recriar e/ou manter deve ser uma prioridade quando se definem as abordagens para os diferentes trabalhos necessários e, por isso, na maioria das vezes intervenções menos invasivas e intensivas são mais benéficas.
Dar preferência a intervenções manuais e mecanizadas de baixo impacto, uso de maquinaria de forma localizada e pontual apenas quando estritamente necessário, aplicação localizada de fitofármacos, são exemplos de estratégias que podem determinar os resultados numa área de intervenção a longo prazo. Ter uma intervenção baseada em estratégias destas, cria melhores oportunidades para que a área regenere por si, os recursos investidos no local sejam preservados com maior sucesso e haja uma melhor colonização também com fauna por encontrar maior estabilidade e riqueza a médio longo prazo de recursos para os seus ciclos de vida.
Ter em consideração todos estes fatores permite preservar dinâmicas essenciais para áreas florestais mais ricas e biodiversas que incluam a preservação e manter solos vivos com fungos e invertebrados, diferentes estratos vegetais desde o herbáceo ao arbóreo, animais de diferentes portes desde micro a micromamíferos, insectos e aves.
Nota: esta crónica foi desenvolvida no âmbito do programa do Corpo Europeu de Solidariedade.