As florestas estão a enfrentar eventos de morte súbita inéditos, em todo o mundo, devido a alterações e eventos climáticas que tendem a tornar-se mais presentes e frequentes, empurrando muitas árvores para o seu limiar de sobrevivência, em especial as florestas antigas de crescimento lento, que representam perdas extremamente difíceis de recuperar e que levam várias gerações.
O planeta terra perdeu um terço das suas florestas ao longo dos últimos dez mil anos, mas metade desse valor perdeu-se em pouco mais de um século, devido a intervenção humana, como forma de suprir muitas das suas necessidades, continuando a ser a maior causa de perda das florestas, mas com as alterações climáticas, as causas das perdas tornaram-se globais e omnipresentes.
As alterações climáticas levam a um aumento das temperaturas acompanhadas por vagas de calor e seca cada vez mais intensas e longas, matando as árvores ou enfraquecendo a sua resistência a diversos fatores ambientais, como pragas, agentes patogénicos, fogos extremos, chuvas extremas e oscilações no nível do mar, basicamente afetando florestas em todos os ecossistemas planetários.
Para agravar, o que se observa em muitos locais, é que as florestas, após perdas catastróficas, já não estão a regenerar-se, com a paisagem a entrar em transição para algo novo.
Os dados de satélite indicam-nos que até houve um aumento da área reflorestada e a maior presença de dióxido de carbono até deveria impulsionar o seu crescimento, mas os modelos não conseguem distinguir florestas naturais de florestas plantadas para fins comerciais, que, em princípio, justificam em grande medida esse aumento e não providenciam os mesmos serviços de ecossistema ou contêm a mesma biodiversidade.
Foram lançados diversos programas de plantação em larga escala, já que é uma solução óbvia, mas nem sempre têm produzido os resultados esperados, essencialmente dadas as perdas massivas quando é exigida manutenção, existe competição com espécies exóticas invasoras, perante as dificuldades face às alterações ambientais em curso ou existem conflitos de interesse.
Também se lançaram diversos programas de proteção de florestas através de mecanismos de compensação de emissões de combustíveis fósseis, mas, na realidade, sem que essa proteção possa ser efetiva e duradoura, dado que as alterações ambientais continuam a persistir e a ser alimentadas na origem e porque a proteção tende a resumir-se ao combate a incêndios, o que também se revelou catastrófico para muitas florestas históricas, porque em vez do habitual padrão de incêndios de menor dimensão e intensidade, que permitiam uma rápida recuperação, potenciaram fogos de maior dimensão e intensidade, que quebraram os mecanismos naturais de regeneração espontânea.
Para agravar, significa que com estes incêndios também se perdeu a suposta compensação de emissões de combustíveis fósseis, sem que se tenham implementado medidas para diminuírem as suas emissões.
Evidentemente que as soluções óbvias para fazer face a esta crise será a óbvia diminuição do abate das florestas e a redução efetiva das emissões de combustíveis fósseis, mas também podemos agir auxiliando numa proteção mais efetivas das florestas e auxiliar na sua regeneração e adaptação, deixando aqui algumas soluções globais para ajudar as florestas:
1. Expandir as Florestas Antigas: A solução mais imediata e consensual será proteger as florestas antigas saudáveis, em especial as de crescimento lento, procurando criar espaço para que se possam expandir e apoiar essa expansão com plantações, que possam, também elas, servir de tampão a fatores de stress ambiental, sem esquecer de deixar fluir os padrões naturais que afetam as florestas, para os quais estão preparadas para recuperar.
2. Migração Assistida: As florestas sempre se foram deslocando acompanhando as alterações ambientais, cerca de um quilómetro por ano, mas quando essas mudanças são demasiado rápidas, como as atualmente registadas, as florestas teriam que ser, em média, seis a dez vezes mais rápidas, pelo que uma solução será plantar espécies em áreas que constituíram o seu futuro habitat. Os dados das experiências realizadas em grande escala foram de tal forma convincentes, que, em alguns locais, se tornou obrigatório plantar espécies definidas nos modelos de migração, quebrando uma das regras mais elementares de apenas se plantar espécies dos habitats locais.
3. Criar Redutos de Biodiversidade: É essencial promover a maior quantidade possível de bolsas de florestas resilientes e altamente diversificadas, que sejam facilmente griveis, para que que possam efetivamente funcionar como redutos e focos de expansão e simultaneamente compatibilizar algumas destas florestas com modelos económicos, em especial com a silvicultura e a agricultura, dado que competem diretamente pelo mesmo espaço, podendo, também ser um instrumento útil face ao abandono de terras.
4. Criar Espécies mais Resistentes: Com alguns ajustes genéticos, poderemos ajudar muitas espécies a conseguir obter mecanismos de adaptação aos fatores de stress ambiental, podendo salvar muitas espécies e habitats, agora condenados, mas a resistência ética a tais interferências são grandes, mas a verdade é que as interferências que causam as ameaças e perdas são elas também um produto nosso, mas onde o escrutínio ético nem sequer entra na equação.
A Plantar Uma Árvore – Associação tem trabalhado em alguns destes eixos, designadamente, na Mata Nacional do Bussaco, protegendo e procurando expandir este núcleo de floresta antiga.
No Parque Natural de Sintra-Cascais, na Reserva Natural Local do Barreiro e no Baldio de Carvalhais integrado na Zona de Proteção Especial das Serras da Freita e Arada, neste caso, em parceria com a Montis – Associação de Conservação da Natureza, criando manchas de alta densidade que funcionem como redutos de ampla biodiversidade que possam funcionar como focos de expansão.
Em Vila de Frades, na Vidigueira, no Luso, na Mealhada e em Colares, em Sintra, em conjunto com proprietários privados, tem-se procurado criar núcleos biodiversos que se compatibilizem com as diversas atividades que os proprietários pretendem empreender, mas também com os seus anseios de ver restaurados os seus terrenos.
Em quase todos este locais também se promoveu, de forma muito circunscrita, a migração assistida, embora seja mais no sentido de voltar a reintroduzir espécies locais perdidas, em locais onde se considera que ainda têm potencial de adaptação, seja pela migração em altitude, por nichos de habitat funcionais ou por mera tentativa de criar espécies mais resilientes, embora sem uma modificação induzida.