Crónica de campo #20
Na crónica deste mês voltamos às exóticas invasoras, nomeadamente as acácias e os pitósporos e, à necessidade de planear e acompanhar as estratégias de intervenção ao longo dos anos.
A maioria das áreas onde a Associação desenvolve trabalho são terrenos ecologicamente degradados, resultado de uma alteração do uso e tipo de ocupação do solo pela intervenção humana, donde resultou, regra geral, o remover da vegetação nativa e a introdução de vegetação exótica que em poucas décadas regenerou e expandiu a sua área de ocupação ao ponto de atualmente crescerem de forma descontrolada e, por isso, serem consideradas exóticas (= vindas de outro país) e invasoras (= de crescimento competitivo).
As acácias e os pitósporos são ambas vegetação de estrato arbóreo, ou seja, tipos de árvores, que requerem uma abordagem de intervenção distinta consoante o seu porte:
– Fase inicial de germinação seminal (até 1 metro dimensão): monda manual;
– Fase intermédia de desenvolvimento (1 a 2 metros dimensão): desenraizamento com enxada/sacho;
– Fase posterior de árvore jovem a centenária (superior a 2 metros dimensão): desrama, descasque do tronco e exposição das raízes para secar de pé e, posteriormente, serrar a madeira morta.
Para além de avaliar a dimensão dos indivíduos para decidir o tipo de técnica a adotar devemos ter em consideração outros fatores bióticos/naturais que possam existir no terreno para definir áreas prioritárias de intervenção:
– Regeneração nativa: identificar previamente os núcleos e fazer intervenções seletivas sem comprometer a sua preservação;
– Plantações: ter as mesmas precauções que no ponto anterior;
– Escarpas e afloramentos rochosos com núcleos isolados: assegurar a sua eliminação para evitar dispersão constante de sementes a longo prazo, pela ação da gravidade;
– Clareiras com boa exposição solar: focos potenciais de invasão com novas sementes pelo solo exposto sem competição natural de outras espécies;
– Linhas de água ou de escorrência: estas zonas mais húmidas são focos preferenciais de invasão e de crescimento acelerado.
É, no entanto, importante referir que mesmo com uma boa avaliação prévia do contexto do terreno para identificar locais prioritários de intervenção e as técnicas manuais a aplicar, podem surgir, ainda assim constrangimentos como:
– Árvores adultas mais reativas que após o descasque regeneram pelo tronco e raízes com novos rebentos ou casca. Comum em zonas mais húmidas/sombrias que não criem stress hídrico ou, por serem alimentadas pelas raízes das árvores vizinhas;
– Núcleos em escarpas parcialmente controlados por estarem pouco acessíveis ou, muito enraizados nas rochas;
– Toiças de árvores antigas que foram cortadas com máquinas em intervenções anteriores e por isso crescem deformadas, sem dimensão para descasque ou, se sim, são mais resistentes a regenerar;
– Contaminação de sementes nas fronteiras com terrenos vizinhos sem intervenção.
Em todo o caso, a experiência de trabalho da Associação permite concluir que com método, persistência e consistência as intervenções dão resultados satisfatórios de restauro ecológico. Nos terrenos mais antigos, com gestão em contínuo, localizados nas parcelas da Peninha, Azóia e Estrada da Serra no Parque Natural de Sintra-Cascais, com mais de 10 anos de intervenções, é notória a regressão da área de invasoras e a expansão de regeneração natural de nativas que a longo prazo fazem o seu controlo natural, assim como a sua remoção ser decisiva para criar espaço para novas plantações e a manutenção da elevada taxa de sobrevivência nos primeiros anos de estabelecimento das plantas plantadas.