Apesar de apenas ouvir falar de aranhas causar arrepios a muitos, embarquemos numa pequena aventura para conhecer o papel curioso e vital que estes pequenos seres de oito patas desempenham para o funcionamento dos ecossistemas, em especial das florestas.
Todos os dias nos deparamos com diferentes e diversas espécies de aranhas no nosso trabalho de terreno, mas antes de entrarmos em especificidades sobre alguns destes encontros, façamos um apanhado geral sobre este grupo de artrópodes.
Para além de muitas outras características interessantes, as aranhas são capazes de “trocar de pele” fazendo uma muda do seu exoesqueleto (“casca”), permitindo o seu crescimento e adaptação às mudanças ambientais de onde vivem.
As aranhas, animais predadores essenciais dos ecossistemas, são aracnídeos conhecidos pelas suas intrincadas teias e pelo papel vital no controlo de pragas. As muitas espécies de aranhas que fazem parte desta categoria, contribuem para o equilíbrio ecológico das populações de insetos e outros insectos já que ao se alimentarem deles ajudam a controlar o aumento ou diminuição do número de indivíduos destas populações, mantendo assim a biodiversidade.
Curiosidade: uma forma fácil de distinguir artrópodes de insetos é pelo número de patas, os artrópodes por norma têm sempre 4 pares de patas (8 patas), e os insetos 3 pares de patas (6 patas).
Algumas das espécies nativas que vamos encontrando no nosso dia-a-dia:
Aranha-Vespeira (Argiope bruennichi): A mestre das artes
Caracterizadas pela sua parecença à primeira vista com uma vespa/abelha, com as suas listas amarelas e pretas, estas aranhas são mestres na construção das suas teias. Tecem teias com padrões em forma de orbes extremamente eficazes como terreno de caça, especialmente para gafanhotos, um dos seus petiscos favoritos. São das teias mais comuns de se encontrar nas nossas florestas, de erva em erva ou arbusto em arbusto, podem ser tecidas junto ao solo ou mais elevadas.
Curiosidade: As aranhas vespeiras não são venenosas para os humanos, e tal como as outras espécies de aracnídeos ajudam a manter o equilibro das populações de insetos e a controlar pragas.
Tecedeira-de-cruz-pálida (Araneus pallidus): A mestre na camuflagem
Estas pequenas aranhas são mestres na camuflagem sendo peritas em nos fazerem acreditar que fazem parte do seu entorno. São facilmente identificáveis, quando as conseguimos descobrir na sua camuflagem, pela cruz pálida que têm desenha no dorso.
Apesar da sua aparência delicada, são predadoras formidáveis, que se alimentam maioritariamente de insetos voadores como moscas e abelhas. Como consequência desta preferência alimentar, as suas teias costumam ser entre os arbustos e a vegetação, tecidas em formato amplo, e nos dias de chuva/húmidos podemos facilmente encontrá-las pelos desenhos do orvalho que nelas ficam.
Curiosidade: Há espécies de aranhas que apesar de serem difíceis de distinguir de outras espécies pelo seu aspeto, as suas teias não enganam. Apesar de para nós parecerem semelhantes à primeira vista, as teias das aranhas são únicas, de espécie para espécie.
Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (Araneus diadematus): as mestres da caça
As Tecedeiras comuns ou aranhas dos jardins, são um encontro comum nas florestas Portuguesas. Nesta espécie, as fêmeas são as trabalhadoras, já que construem as suas grandes teias, com 40cm de diâmetro, entre as árvores e arbustos, enquanto que os machos apenas deambulam de teia em teia à procura de fêmeas com quem emparelhar.
A sua dieta é variada e consiste em insetos voadores como moscas, abelhas, vespas e especialmente borboletas (noturnas e diurnas).
Curiosidade: As aranhas-dos-jardins são ótimas controladoras de pragas nas florestas o que ajuda nas tarefas de conservação da natureza para se poder reduzir a quantidade de químicos ou materiais não naturais usados para apoiar o crescimento das plantas nativas.
Agora já apresentadas algumas das aranhas das nossas florestas, percebemos que estes aracnídeos não são só uns bichos rastejantes e estranhos, mas sim peças importantes e indispensáveis no equilíbrio da natureza. Por isso, da próxima vez que se encontrar no meio de uma floresta, tente encontrar estas pequenas ajudantes e observá-las enquanto tecem as suas delicadas e complicadas teias, apanham o seu alimento e ajudam a natureza.
