Crónica de campo #14
Novo ano trás nova crónica e este mês é sobre uma espécie muito querida e rara nas serras nacionais: o Azereiro.
O também nome comum Loureiro-de-Portugal e o botânico Prunus lusitanica, revelam a sua distribuição geográfica restrita à Península Ibérica, ilhas da macaronésia, e, pontualmente, norte de Marrocos e Pirenéus Franceses.
Esta prunácea que, ao contrário das outras espécies da família como a pereira-brava, tem a folha persistente remete há sua origem antiga e relíquia da floresta Laurissilva que, com as mudanças climáticas no continente, atualmente apenas se encontra nos arquipélagos da Madeira e dos Açores. A existência de vales e encostas mais atlânticas de ecologia sombria, solos frescos e com chuvas e nevoeiros abundantes permitiu a sobrevivência da espécie em pequenos núcleos no território continental.
Como espécie apresenta algum interesse para as dinâmicas no ecossistema, vejam-se alguns:
- Copa baixa com folhagem densa e permanente: potencial de abrigo e nidificação para a passeriformes e, de aclimatação com a geração de brisas e condensação de nevoeiros;
- Floração exuberante: fonte de alimento para polinizadores;
- Fruto suculento semelhante a uma cereja-brava: fonte de alimento para aves e pequeno mamíferos.
Encontra boas condições de desenvolvimento em zonas ribeirinhas e de carvalhal, no entanto apresenta um estatuto de conservação de Quase Ameaçada (LC) dados os vários fatores de risco de degradação ecológica deste tipo de habitats com a ocorrência regular de fogos, ocupação por espécies exóticas invasoras como as acácias e arroteia de terrenos para outros usos sejam florestais, pastoreio ou agrícolas.
Atualmente, não se encontram identificadas populações no Parque Natural de Sintra-Cascais. No entanto, dada a tipologia de flora do carvalhal e ecologia das zonas montanhosas atlânticas de Sintra, existem indícios de que esta espécie poderá ter existido na região e se considerar localmente extinta nos dias de hoje.
Esta crença levou a equipa a realizar o primeiro teste de reintrodução na área da Peninha, esta época de plantação, com 13 indivíduos. Com planos para aumentar a sua densidade neste bosquete em recuperação, bem como noutras áreas do parque, espera-se que esta seja mais uma espécie a enriquecer o sub-bosque do carvalhal em desenvolvimento e uma nova fonte de recursos restituída na serra.