A Medicalização da Natureza
01 Mar 2023
A Medicalização da Natureza
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A ciência demostra que a permanência em espaços naturais trás amplos benefícios para a nossa saúde mental e física, potenciado ainda a cognição e os comportamentos positivos, com uma nova gama de profissões e possibilidades a emergir, pelo que o envolvimento aberto e inclusivo da população em geral e em particular de grupos sociais, que beneficiam do contato e trabalho em prol da natureza, são benefícios palpáveis e tangíveis que a associação proporciona à comunidade.

Em 1865, o arquiteto paisagista Frederick Law Olmsted olhou para o vale de Yosemite e para incentivar os legisladores a protegê-lo escreveu: “É um facto científico que a contemplação ocasional de cenários naturais de carácter impressionante (…) é favorável para a saúde e vigor dos homens e sobretudo para a saúde e vigor dos seus intelectos”, embora, há altura, tal afirmação fosse mais intuição do que ciência.

Entretanto, diversos estudos científicos confirmaram que os espaços naturais permitem efetivamente diminuir o sofrimento mental, a incidência de um conjunto abrangente de doenças, a mortalidade e até a violência e a criminalidade, bem como potenciar a cognição e a criatividade. Se pensarmos que evoluímos por entre paisagens naturais, parece perfeitamente lógico que o nosso organismo reaja desta forma, todavia, subestimamos o efeito de estar em contato com a natureza.

As possibilidades que se perspetivam vão desde a construção de bairros, escolas, clinicas, hospitais e até polos empresariais verdes, passando pelas atividades de natureza imersivas, a conservação da natureza e o restauro ecológico, até à própria “medicalização da natureza”.

A “medicalização da natureza” é certamente um nicho de vanguarda desconhecido da maioria dos leitores, mas que a Coreia do Sul, com o seu longo historial de adoração da natureza e tendo que lidar com uma população com elevados níveis de stress laboral e social, abraçou, com o bem-estar humano a passar a ser um objetivo formal do plano florestal do país e a beneficiar de políticas públicas concretas, com dezenas de milhões de visitantes a rumarem às florestas todos os anos.

Com efeito, em 2019, contava com 3 “florestas curativas”, tendo previstas 37 até 2027, procurando que haja uma perto de cada uma das maiores conglomerações urbanas. Em todas existem equipas de “vigilantes de saúde”, formadas na Universidade de Chungbuk, que oferece um programa de licenciatura em “cura florestal”, cujas oportunidades de emprego são boas: o Departamento Florestal da Coreia do Sul contava nomear 500 “vigilantes de saúde” entre 2020 e 2022.  Estas equipas acolhem uma miríade de “pacientes”, desde jovens alvo de bullying, alcoólicos, doentes com problemas que vão desde a depressão e o stress pós-traumático, até múltiplas doenças do foro fisiológico, mas também prisioneiros, jovens institucionalizados, grávidas, idosos, crianças e a população urbana em geral, orientando-os em diversas prescrições terapêuticas e ao longo de “trilhos curativos”.

A verdade é que a “cura florestal” é uma terapia sem efeitos secundários, prontamente disponível a custo zero, que permite reduzir os custos na saúde, beneficia as economias locais e melhora a saúde física e mental, sejamos saudáveis ou padeçamos de alguma enfermidade fisiológica ou psicológica. Todavia, esta hipótese obriga a uma deslocação até às florestas. E se integrássemos as florestas na malha urbana?

Muitos pacientes, idosos, crianças e grupos sociais desfavorecidos, poderiam ficar excluídos, mas se optarmos por criar florestas ou corredores ecológicos de alta densidade em redor dos bairros sociais, escolas, clinicas e hospitais, podemos melhorar o acesso e trazer os ganhos da “cura florestal” para junto de quem mais precisa, até porque os estudos científicos demonstram que mesmo que tais espaços naturais não sejam usufruídos, a sua presença já é suficiente para produzir efeitos tangíveis e são as pessoas com menores rendimentos que parecem ser as mais beneficiadas. Além disso, estaríamos ainda a potenciar a qualidade do ar e o conforto térmico das áreas urbanas.

Podemos mesmo pensar em tal solução para polos empresariais, já que está provado que um passeio de 50 minutos entre o arvoredo melhora as capacidades de atenção executiva, como a memória de curto prazo, e se as empresas quisessem ir ainda mais longe, levando os seus funcionários para retiros de três dias, tal permite melhorar o desempenho dos seus funcionários, em tarefas de resolução de problemas criativos, em 50%.

O fomento da “medicalização da natureza”, a par da conservação da natureza e do restauro ecológico, são eixos que podem permitir gerar uma economia em circuito fechado, em que, por um lado, os recursos naturais são explorados e restituídos e por outro lado onde os recursos naturais funcionam como um capital natural de alto valor acrescentado, que oferece um conjunto de serviços sociais, de saúde e de ecossistema.

A Plantar Uma Árvore – Associação atua nos eixos da conservação da natureza e do restauro ecológico, mas ao envolver a comunidade, também fomenta o eixo da “medicalização da natureza”, sendo habitual situações em que a presença de um indivíduo ou de um determinado grupo social é motivado por questões fisiológicas, psicológicas e sociais, que se aliam a questões ambientais e de conservação da natureza, pelo que podemos dizer: plantar uma árvore, o bem que lhe faz!

A Medicalização da Natureza

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