
A abordagem à conservação da natureza, em Portugal, tende a ser cada vez mais entendida e empreendida como mera gestão de combustíveis, com uma abordagem operacional ignóbil e típica de uma floresta de produção, tornando-se uma causa populista, desprovida de uma intervenção baseada no conhecimento técnico e desvirtuada do objetivo da preservação dos ecossistemas, habitats e espécies.
Há vários anos que os fogos tomaram conta da agenda politica e por arrasto a gestão do território faz-se baseada numa agenda politica populista, com abordagens que há muito dispensaram o conhecimento e a ciência na definição da gestão das áreas destinadas à conservação da natureza, com os governantes a dispensarem os técnicos e assumirem de forma populista, prepotente, autoritária e ignóbil, a gestão destes territórios sensíveis, prioritários, protegidos e de alto valor acrescentado, emanando politicas e regras que cilindram os valores naturais, sem sucesso na questão dos incêndios, mas que, paradoxalmente, granjeiam votos.
Tal como já enunciado num manifesto da associação, com oito anos, o enfoque dado ao combate aos incêndios levou-nos a empreender uma estratégia que tenta resolver um problema a jusante, focado no combate infindável aos incêndios, quando a sua resolução está a montante, sendo imperioso reorganizar a estrutura das propriedades, em especial as abandonadas, revitalizar o mundo rural retribuindo quem o ocupa pelos serviços de ecossistema que podem fornecer, fomentar uma economia ambiental baseada no restauro ecológico e na restituição da floresta nativa, reativar os serviços florestais que permitam uma gestão global e permanente do território, envolver e apoiar as organizações ambientais que estão no terreno e que consubstanciam soluções de intervenção, cooperação e fonte de conhecimento, regular as monoculturas de eucaliptal e pinhal, controlar acacial, silvados e matos, promover a biodiversidade das espécies vegetais autóctones como fator de resiliência aos incêndios e como repositório de produtos e serviços de alto valor acrescentado, dotar as entidades e medidas de conhecimento científico, técnico e operacional, profissionalizar os bombeiros e envolver a comunidade.
Para a Plantar Uma Árvore – Associação, os desafios já vão muito além dos que naturalmente emanam dos desequilíbrios e ameaças próprios de áreas ecologicamente degradadas, que aceitamos, mas tendo e querendo trabalhar de forma colaborativa com as entidades gestoras, embora algumas, devamos salvaguardar das generalizações, se traduzam numa relação baseada num trabalho profissional, competente, positivo, construtivo, colaborativo e focado em resultados objetivos, temos, por oposição, entidades que, sem qualquer despeito ou justificação fatual, destroem o trabalho de anos, nosso, da comunidade e da natureza.
Temos vindo a assistir a uma crescente tendência de políticos que se esquecem que quando eleitos se tornam governantes, que tendem a substituir ou a anular o corpo técnico dos seus gabinetes, com técnicos com provas dadas a abandonarem as suas carreiras e outros a vergarem perante uma estrutura hierárquica fossilizada, obsoleta, conservadora e prepotente, que emana abordagens e regras populistas, sem factualidade técnica e desprovidas de conhecimento cientifico, com resultados desastrosos e agravando problemas.
As intervenções em áreas protegidas e com valores naturais, devem obedecer aos interesses de salvaguarda dos ecossistemas, habitats e espécies, devendo ser elas baseadas na ecologia e biologia, o menos intrusivas possíveis, com intervenções que ponderem o custo benefício face aos valores naturais e alheias de outros interesses, que não os da conservação da natureza.
Cada vez mais se assiste a intervenções altamente mecanizadas empreendidas por empresas privadas da área da floresta de produção, que ignoram ou são incapazes de interpretar os cadernos de encargos, sem acompanhamento técnico e supervisão dos trabalhos de campo, desprovidas de equipas operacionais capacitadas para a identificação e preservação dos valores naturais, que por vezes trabalham em troca da madeira recolhida, permitindo-se o uso de viaturas pesadas sem qualquer cautela com a regeneração natural e até a promovida, anulando-se os processos de regeneração natural e as intervenções empreendidas ao longo de vários anos.
A cooperação e o diálogo que pautava a colaboração com estas entidades vai sendo minado e estabelece-se um clima de autoritarismo, prepotência e de ameaças veladas, sem qualquer respeito pelo trabalho e investimento feito, vendo-se o trabalho de anos da equipa e comunidade, além do investimento, anulados e obliterados, sem pudor em exercer um determinado poder para calar e colocar em causa a existência da associação e consequentemente do seu trabalho, postos de trabalho e envolvimento da comunidade.
A Plantar Uma Árvore – Associação vai continuar a fundamentar o seu trabalho no conhecimento cientifico e empírico, eminentemente emergente da ecologia e biologia, com um corpo profissional dotado de competências abrangentes e paixão pelo trabalho, intervenções ponderadas, procurando sempre estabelecer um diálogo construtivo com todas as entidades parceiras, conducente com um trabalho colaborativo que potencia resultados, cerrando fileiras face às adversidades e nunca desistindo da sua missão e compromisso com a sua comunidade e a natureza.
Na imagem 1 observamos o exemplo de protetores com plantas já com porte significativo cortados. Na imagem 2 vemos carvalhos adultos intencionalmente cortados com motosserra, sem qualquer pudor para com os valores naturais. Na imagem 3 regeneração espontânea de carvalhos cortada. Todas estas situações são exemplos da vulga operação de “limpeza” trazida das florestas de produção para as áreas protegidas e empreendidas por equipas das entidades gestoras ou por empresas privadas.
