Fungos: os aliados para recuperação de solo
01 Dez 2019
Fungos: os aliados para recuperação de solo
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Crónicas de campo #4

Na crónica deste mês escrevemos à escala microscópica do reino dos fungos.

Estas formas de vida subterrâneas existem naturalmente em espaços florestais, passando a maior parte do ano despercebidas acima do solo. A sua atividade torna-se evidente à superfície durante o período das chuvas quando frutificam, no que comummente se chama de cogumelos, sendo que estes apenas representam o produto reprodutivo do micélio, isto é, da rede filamentosa do fungo que lhe deu origem.

Os fungos podem ter duas formas de crescimento, sendo saprófitas quando se alimentam e desenvolvem em matéria orgânica morta e simbióticos quando crescem em associação com outro organismo vivo. Podendo as relações simbióticas se dividir em comportamentos mutualistas quando tanto o fungo como a planta são beneficiados pela ligação, o caso das micorrizas, ou em comportamentos antagónicos em situações de parasitismo na qual o fungo se desenvolve associado à planta sem que esta beneficie da sua presença.

Em contexto florestal a presença de fungos é essencial, sendo favorecido pela coexistência dos vários comportamentos previamente descritos. Vejam-se alguns exemplos:

— Os fungos saprófitas são responsáveis pela decomposição de matéria morta, como troncos e raízes, permitindo a reciclagem destes resíduos e incorporação dos nutrientes no solo;

— As micorrizas favorecem o crescimento e a comunicação da plantas. A associação entre os fungos e as raízes aumenta a área de alcance das plantas a água e nutrientes, resistência à seca, maior estabilidade física devido ao desenvolvimentos estruturado das raízes e a ligação e comunicação entre plantas criando “comunidades vegetais” mais consistentes e dinâmicas;

— Os fungos parasitas por enfraquecerem e poderem levar à morte de indivíduos permitem, em densidades equilibradas, aumentar a longo-prazo a resistência das plantas à sua presença e, o controlo populacional de espécies vegetais.

Nas parcelas de gestão no Parque Natural de Sintra-Cascais, ainda que nem todas as espécies estejam de momento identificadas, as várias dinâmicas têm sido encontradas. Sendo evidente quer pela sua presença à superfície nesta altura do ano com as frutificações diversas e abundantes, quer pelo solo progressivamente mais escuro e com densos filamentos esbranquiçados, os referidos micélios. Os fungos têm aparecido nas áreas não só naturalmente quando as circunstâncias ecológicas se tornam favoráveis para o seu crescimento, como também pela sua reintrodução com a plantação de indivíduos previamente micorrizados em viveiro, essencialmente o caso dos diversos carvalhos, sobreiros e castanheiros.

Fungos: os aliados para recuperação de solo

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