O feto-real (Osmunda regalis), pertencente à família Osmundaceae, é um arbusto robusto e caducifólio, muito comum em zonas húmidas e junto a linhas de água por toda a Europa, Ásia e África. Uma planta adulta distingue-se pelos grandes tufos de frondes verdes. durante quase todo o ano, mas que adquirem tons acastanhados-avermelhados no outono. É uma das maiores espécies de fetos da Europa, podendo atingir até 1,5 metros de altura — talvez por isso seja chamada de “real”. O nome latino Osmunda terá origem em “Osmunder”, designação saxónica para o deus do tempo, Thor.
Na Mata Nacional do Bussaco podem encontrar-se exemplares de feto-real, mas também de Dicksonia antarctica, um feto-arbóreo exótico, introduzido no século XIX e que dá o seu nome ao Vale dos Fetos. Apesar do porte semelhante e do aspeto igualmente impressionante, não devem ser confundidos: o Osmunda regalis é uma espécie nativa da Península Ibérica, enquanto a Dicksonia antarctica é originária da Austrália, com caracter invasor nas ilhas dos Açores, mas que no continente não apresenta esse risco.
Passear junto a um feto-real é, de certa forma, viajar no tempo. Esta planta é considerada um fóssil vivo, já que fósseis bem preservados de espécies ancestrais, como a O. cinnamomea (com cerca de 70 milhões de anos) e a O. claytoniana (datada de há 200 milhões de anos), mostram que quase não houve perda genética. Ou seja, o feto-real atual é praticamente idêntico às suas antecessoras do período Jurássico.
Para além do seu aspeto imponente, esta espécie destaca-se também pelo modo como se reproduz. Ao contrário de muitas plantas terrestres que produzem sementes ou flores, os fetos reproduzem-se através de esporos. Estes esporos produzidos nas frondes quando caem no solo húmido germinam numa pequena planta independente, do tamanho de uma unha, e desenvolvem órgãos masculinos e femininos. Através da agua o esperma nada até ao óvulo, onde, depois de fecundado vai crescer um novo feto-real.
As frondes férteis, produtoras de esporos, não despertaram apenas o interesse de biólogos e ambientalistas. Na mitologia, acreditava-se que estas frondes conferiam poderes mágicos a quem as colhesse, desde que o fizesse dentro de um círculo desenhado em redor da planta e resistisse aos tormentos lançados por demónios.
Já deve ter reparado nos jovens fetos enrolados antes de abrirem as frondes. Essas estruturas chamam-se cabeças-de-violino (fiddleheads), assim chamadas pela semelhança com o caracol de um violino. Em vários países, estas são consumidas assadas, embora seja necessário mais estudo para confirmar se esse processo elimina os compostos potencialmente cancerígenos. As frondes também podem ser usadas em compressas para tratar feridas e dores reumáticas, enquanto as raízes são valorizadas pelas suas propriedades diuréticas, tónicas e cicatrizantes.
Nota: esta crónica foi desenvolvida no âmbito do programa do Corpo Europeu de Solidariedade.