
A gestão das áreas florestais tende a cortar e remover árvores tombadas, envelhecidas ou com deformações, mas o processo natural diz-nos que as devemos deixar tombar e apodrecer, dado que podem ajudar a criar nova vida, animal e vegetal, mas será que o mesmo se aplica quando se tratam de exemplares de espécies exóticas invasoras.
Ao embrenharmo-nos numa floresta pristina, esta terá um aspeto caótico, onde é comum encontrarmos árvores tombadas, que desempenham um papel essencial no ecossistema de uma floresta, no armazenamento de carbono, no suporte à biodiversidade e promoção de habitats, na reciclagem de nutrientes e na abertura de clareiras para outras espécies, todos aspetos vitais da regeneração florestal.
Existe uma ideia instalada, na engenharia florestal, de corte e remoção de árvores com deformações e mortas ainda de pé ou tombadas, mas os biólogos e ecologistas trouxeram uma maior compreensão da função ecológica vital que as árvores mortas desempenham num ecossistema florestal.
Estejam as árvores mortas ainda de pé ou tombadas, estas atraem todos os tipos de vida, a começar pelas bactérias e fungos, que promovem o processo de decomposição, amolecendo o tronco duro e transformando-o em algo poroso e penetrável, permitindo a colonização por artrópodes, insetos e répteis, bem como até pequenos mamíferos e aves, que procuram refúgio seguro e sustento, cuja sobrevivência muitas vezes depende destas árvores.
Efetivamente muitas espécies dependem de árvores mortas ou moribundas para abrigo e alimento, os designados “organismos saproxílicos”, que vivem em madeira em decomposição, cuja existência é ameaçada pela limpeza excessiva de ramos e troncos, estando vários em risco de extinção.
Mas estas árvores também são importantes já que enquanto se decompõem, os stocks de carbono e azoto, são lentamente reabsorvidos pelo solo, uma etapa crítica na reciclagem de nutrientes e como sumidouros de carbono, já que o processo de sequestro de carbono é prolongado.
Se a remoção de árvores mortas reduz ou aumenta a suscetibilidade a incêndios florestais continua a ser um tema de muito debate, mas a ignição de madeira morta é difícil, sendo certo que não contribui para a propagação rápida do fogo, mas pode ser mais difícil apagar madeira morta quando está em chamas.
Até aqui falámos de florestas constituídas por espécies nativas, mas quando introduzimos na equação espécies exóticas invasoras, estas árvores nem sempre conseguem contribuir da mesma forma, para começar, porque são incapazes de atrair muitos dos fungos e bactérias essenciais para abrir caminho a outras espécies, permanecendo muito mais tempo no solo até serem decompostas, podendo então representar uma maior risco de incêndio, embora, assim, consigam prolongar a sua função de sumidouros de carbono.
A Plantar Uma Árvore – Associação, no decurso das suas intervenções em áreas florestais, opera essencialmente em áreas onde predominam árvores de espécies exóticas invasoras, embora em algumas áreas predominem espécies nativas e naturalizadas em fim de vida.
No decurso da recuperação destas áreas ecologicamente degradadas, visando a restituição de bosques nativos, são empreendidas diferentes abordagens, sendo que procuramos deixar os troncos das árvores mortas nativas e naturalizadas, exceto se houver uma acumulação excessiva, que condicione as operações, procurando-se, essencialmente, remover apenas o excesso de ramagem, para facilitar as operações e para evitar que sirvam de suporte ao crescimento excessivo de silvados e trepadeiras.
No que concerne às espécies exóticas invasoras, estas são alvo de controlo, pelo que estamos a falar de áreas, muitas vezes, densamente povoadas, pelo que, por um lado, criam um emaranhado de árvores mortas, de difícil decomposição e que aumentam consideravelmente o volume de material consumível, em caso de passagem de fogo, bem como, por outro lado, tornam muito difícil conseguir prosseguir com as operações seguintes, incluindo o controlo do banco seminal, de silvados e matos, pelo que, na sua maioria, são removidas, deixando-se apenas alguma pilhas organizadas de troncos, que possam servir as funções mencionadas, apesar das limitações dos processos de decomposição naturais.
Nota: esta crónica foi desenvolvida no âmbito do programa do Corpo Europeu de Solidariedade.
