Musgos, Um Reino Ancestral
20 Dez 2023
Musgos, Um Reino Ancestral
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A mais poética expressão de uma floresta é aquela coberta por musgos, mas estas plantas estão presentes em muitos outros ambientes e encerram um reino ancestral e muitos segredos por revelar.

As briófitas (bryophyta sensu lato), onde se inserem os musgos, que contam com mais de 25.000 espécies, constituem uma super divisão das plantas embriófitas não vasculares, não possuindo raízes, flores ou sementes, de pequeno porte, comuns em ambientes húmidos e sombreados, reproduzindo-se de forma sexuada, como assexuada, sendo que na forma assexuada a reprodução pode ocorrer por produção de propágulos ou por mera fragmentação.

A origem dos musgos remonta há 450 milhões de anos, sendo descendentes das algas verdes, tendo sido as primeiras plantas a evoluir em ambiente terrestre, no período geológico Siluriano, há 420 milhões de anos, tendo sido responsáveis pela transformação do ambiente terrestre estéril de outrora, abrindo caminho para as diferentes expressões da vida terrestre.

A sua ampla adaptabilidade a ambientes extremos, podendo suportar temperaturas extremas, ambientes tóxicos e até radioativos, aliada a uma extraordinária capacidade regenerativa e reprodutiva, milagre proporcionado pela célula apical, bastando algumas para se regenerar e podendo propagar-se através de um pequeno pedaço, complementada pela sua capacidade de reação a condições adversas, podendo retardar o seu metabolismo desidratando-se, conseguindo uma rejuvenescência total, quase instantânea, agarrando-se a qualquer superfície, graças a ganchos microscópicos, subsistindo absorvendo a água e nutrientes através das suas membranas, por mero contato com a água e o ar, tornam-na numa planta pioneira por excelência, com enorme capacidade em transformar ambientes, criando um terreno estável e fértil para outras plantas.

Uma expedição cientifica à Antártida, por entre amostras de gelo, retirou uma amostra de musgo com cerca de 2500 anos, surpreendendo a comunidade cientifica e o mundo, ao verificarem que, quando hidrataram a amostra, o musgo rejuvenesceu.

Esta planta ancestral, virtualmente imortal, forma uma floresta em miniatura, onde habitam seres tanto ou mais fantásticos que os musgos, como os tardígrados, os únicos animais de que se tem conhecimento capazes de sobreviver e até de se reproduzir nas condições extremas do espaço. 

Voltando às florestas envoltas em musgo, também aqui os musgos desempenham um papel invisível, mas crucial, dado que, quando envolvem as árvores, protegem-nas de bactérias patogénicas, dadas as propriedades antibacterianas dos musgos, sendo que as bactérias que vivem no musgo dos troncos de árvores velhas, são duas vezes mais eficazes a fixar nitrogênio do que as que vivem no chão.

A interação entre as árvores centenárias, musgos e cianobactérias, é o que contribui para a dinâmica de nutrientes de uma forma que pode realmente manter a produtividade das florestas a longo prazo.

Por entre a penumbra das florestas do Parque Natural de Sintra-Cascais e da Mata Nacional do Bussaco, os musgos são omnipresentes e exuberantes, promovendo a vitalidade da floresta, nos terrenos das Courelas de Guadalupe, na Vidigueira, vemos os musgos a encetar o milagre da rejuvenescência após cada estio severo, enquanto que nas terras altas da área de Rede Natura 2000 da Serra do Alvão, onde fogos e erosão expuseram o leito rochoso, reencontramos os musgos agarrados a estas rochas, assumindo o seu carácter pioneiro e transformador, pacientemente voltando a criar um terreno estável e fértil para outras plantas.

No Japão encontramos jardins botânicos dedicados aos musgos, podendo dizer-se que esta é uma forma de jardinagem ao nível de um ourives, tanto pela sua escala, como pelo seu valor.

Musgos, Um Reino Ancestral

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