A profissão de vigilante da natureza está quase extinta, enquanto as de guarda florestal e a de sapador florestal são redutos, em que todas são pautadas pela desvalorização, embora a conservação da natureza dependa destes profissionais. Talvez, por isso, em território nacional continental, porque efetivamente na Madeira, mas acima de tudo nos Açores, a realidade é diferente, a conservação da natureza seja tão precária e inoperante.
Com a extinção dos serviços florestais e o desmantelamento da estrutura operacional das áreas protegidas, a profissão de guarda florestal e de vigilante da natureza entraram em vertiginoso declínio, uma assombrada pelo estigma do estado novo e outra perseguida pelas tentativas de desacreditar as áreas protegidas, para as abrir à iniciativa comercial. Enquanto isso, a profissão de sapador florestal sobrevivia em pequenos redutos e acima de tudo nas explorações florestais comerciais.
A conservação da natureza é hoje quase uma figura de estilo, fortemente influenciada pela engenharia florestal, gerindo a paisagem de forma intrusiva e mecanizada, quase como uma exploração comercial, em vez da ecologia, gerindo a paisagem enquanto ecossistema, pelo valor dos habitats, biodiversidade e funções de ecossistemas.
A conservação da natureza parece estar devotada, literalmente, ao corte raso. A um esquizofrénico método de plantar para promover a regeneração natural, enquanto se corta a regeneração espontânea. Revolvendo solos, enquanto constrói estruturas para impedir a erosão. Cortando a paisagem com corta fogos, enquanto arrasa galerias ripícolas que são corta fogos naturais, entre outras aberrações. É neste cenário que reemerge a figura do sapador florestal, assumindo este papel de pouco valor.
A conservação da natureza faz-se com pessoas, para a natureza. Faz-se com a investigação académica, que fundamenta decisões, todavia, os decisores descartam a ciência. Faz-se de técnicos que elaboram planos, mas que o fazem a partir de gabinetes, dada a fossilização de estruturas altamente hierarquizadas. Faz-se com operacionais, das profissões quase extintas, substituídas por empresas privadas, que operam com cadernos de encargos de qualidade duvidosa e parco acompanhamento técnico, com trabalhadores a quem lhes é negada a devida formação, nem que seja para justificar a precariedade dos mesmos, que se pautam pela maior margem de lucro, restando pouca sensibilidade para intervir em prol dos valores naturais.
Talvez nem interesse fazer reemergir as profissões de guarda florestal, sapador florestal ou de vigilante da natureza, mas a de uma que integre estas todas, que acumule as funções de cuidar, proteger e vigiar uma área natural, mas também de acolher e orientar visitantes e regular a visitação. Esta é uma profissão de alto valor, adaptável às circunstâncias que é gerir a natureza em eterna mudança e um interlocutor junto da comunidade. Mas continuamos vinculados aos modelos que paradoxalmente foram estigmatizados e marginalizados.
A conservação da natureza precisa de profissionais capacitados para a conservação da natureza baseada em ecologia, integrados em estruturas horizontais adaptativas e cooperantes, a funcionar em equipas polivalentes, que saibam trabalhar com a natureza, como se de uma ferramenta se trata-se, bem como com as pessoas, em prol da natureza, preservando e restituindo funções e serviços de ecossistema, habitats e biodiversidade. Estes são os profissionais da associação e o seu modelo de intervenção.