Crónicas de campo #6
Em tempo de ficar em casa mas sempre com a floresta nativa em mente, este mês trazemos uma nova crónica que propõe aliar a jardinagem á conservação da natureza.
Foram vários os momentos em que temos referido a importância da preservação das espécies nativas no seu habitat natural, neste caso em extensas áreas florestais, mas a verdade é que escassos metros quadrados de um quintal ou de uma varanda podem ser interessantes nichos de biodiversidade.
A escolha de espécies nativas pode trazer várias vantagens para a sustentabilidade destes espaços, vejamos algumas:
— Maior adaptação ao clima do local e consequentemente menos necessidade de rega, um bem cada vez mais escasso;
— Conservação do solo por desenvolverem raízes mais profundas e que o enriquecem em nutrientes benéficos;
— Espécies mais resistentes a pragas e doenças;
— Possibilidade de criar bancos de sementes com potencial para futura dispersão natural em novos locais, onde poderão ser raros e fazer falta;
— Fonte de alimento e refúgio para a fauna autóctone seja pelas folhas, flores, frutos ou sementes.
Não descorando as necessidades de uso destes importantes espaços caseiros, a escolha de plantas nativas pode e deve ser compatível com as suas diversas e possíveis necessidades funcionais. Deixamos aqui alguns exemplos de soluções interessantes para recorrer a espécies nativas:
* Sebes corta vento e/ou para privacidade: loureiro, sabugueiro, sanguinho-das-sebes, pereira-brava;
* Áreas de sombra densa: carvalhos, sobreiro, medronheiro;
* Áreas de sombra permeável: freixo, pilriteiro, lódão-bastardo;
* Canteiros floridos e aromáticos: alecrim, estevas, tomilho, murta, funcho;
* Prados floridos em alternativa aos relvados: papoila, ervilhaca, malva, tremocilha, trevos.
Escolhas como as referidas permitem trazer multifuncionalidade aos espaços, isto é, porque não numa sebe com loureiros e pereiras também se usufruir das folhas aromáticas e fruta da época na cozinha? Ou das diversas aromáticas que para além de atraírem para o jardim insectos com as suas cores e aromas também podem ser usadas em temperos e tisanas pela família? Quintais assim povoados serão sem dúvida espaços mais resilientes, ecossistemas vivos e vividos por todos, seja a família que os habita ou pelos curiosos visitantes selvagens que vem à procura da sua abundancia.